No último dia 8, o professor de português, A. F., de 52 anos, descobriu por acaso uma “homenagem” feita por uma de suas alunas em uma escola estadual de São Bernardo do Campo, na região do ABCD. Avisado por uma professora, ele descobriu uma comunidade no Orkut chamada de “Odeio professor Patinhas”, numa referência ao apelido que recebeu dos alunos em sala de aula, por uma alegada semelhança com o personagem da Walt Disney.
Num primeiro momento, o apelido de Tio Patinhas não incomodou o professor. Na verdade, o que chamou sua atenção foi o tom dos recados deixados por alguns dos 35 alunos que participam da comunidade. Incomodado, ontem, ele foi a uma delegacia e registrou um boletim de ocorrência, fazendo constar a palavra “bullying” no B. O.
“Vou processar os responsáveis por esse crime. Não admito esse tipo de agressão”, comentou o professor.
O caso de A. F. ilustra uma variedade de “bullying” pouco conhecida da população, mas que há algum tempo chama a atenção do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (Apeoesp). É cada vez mais comum a proliferação de comunidades contra professores, criadas por seus pupilos, muitas vezes divulgando fotos não autorizadas e até expondo de maneira constrangedora aquele que um dia já foi chamado de mestre.
Por enquanto, não há números oficiais sobre esse tipo de agressão feita especificamente na internet. Há, porém, um caso emblemático nesses moldes e que foi proferido pela Justiça de Rondônia em 2008. Naquele ano, famílias de 10 alunos com idades entre 12 e 13 anos foram condenadas a pagar R$ 15 mil em indenização ao professor de matemática Juliomar Reis Penna. O motivo: um apelido que lhe foi dado por alunos pela internet.
Em São Paulo, há apenas um dado que mede uma tensa relação entre alunos e professores em sala de aula, mas que não cita o bullying feito pela internet. Em 2006, a Apeoesp encomendou uma pesquisa ao Dieese que verificou um número surpreendente de agressões verbais e físicas nas salas de aula. A pesquisa perguntou qual era o tipo de violência mais comum, segundo a visão dos 635 professores consultados. O resultado foi estarrecedor. Do total, 96% citaram a violência verbal. Logo depois, com 88,5% dos casos, foi citado o vandalismo. Finalmente, em terceiro lugar apareceu a agressão física, com 82%.
Comunidades – Mesmo sem números oficiais, não é difícil encontrar páginas na internet que propagam ódio a um ou mais professores. Além da página contra o professor E. F. no Orkut, há pelo menos outras 10 no Facebook contra professores em geral, mais duas no Twitter e outras dezenas no Orkut.
Do jornal DIÁRIO DO COMERCIO